sábado, 21 de junho de 2014

Conto: Era uma vez a família Ramos

 Emily acordou numa manhã misteriosa em seu usual pijama verde, estava nublado em pleno setembro. Talvez as coisas parecessem normais para outros moradores da Rua Prestel, mas quando chegava o 12 de setembro tudo mudava para a família Ramos. Não foram os pingos de chuva que entravam pela janela e molhava o rosto rosado de Emily que a fez despertar, e sim os gritos estridentes de Stephane, que cortava o coração de Emily, pois ela sabia que seria igual ao ano anterior.
  Ao levantar, seguiu para o quarto de sua irmã e a abraçou o mais forte que pode, secou suas lágrimas e disse que ficaria tudo bem. As duas ficaram ali alguns minutos deitadas, a mais velha cantou musicas que a avó ensinara anos antes até Stephane pegar no sono novamente. Quando desceu para a cozinha, algo estranho, sua mãe não estava lá, não preparava as deliciosas panquecas, mas talvez isso já fosse esperado, afinal perder o marido de uma forma tão trágica causa danos às pessoas.
  Uma boa filha como Emily era, preparou o café-da-manhã, arrumou-o em uma bandeja e subiu as escadas. No fim do corredor a porta do quarto da mãe estava entreaberta, ela pensou nisso de uma forma positiva, pois não era uma boa equilibrista e a maçaneta seria um desafio. Ao empurrar a porta, um choque. Um grito. Uma bandeja no chão. Sua mãe se encontrava com a gravata de seu pai envolta do pescoço, pendurada no ventilador de teto.
  Precisou de alguns segundos para que Emily conseguisse se mexer. Não pensou, apenas correu para o quarto de sua irmã, pegou-a em seus braços e se dirigiu para o carro, só parando para pegar as chaves no móvel da sala que seu pai construíra. Colocou Stephane no banco da frente com a devida segurança, apesar da pressa. Emily não tirava a imagem de sua mãe morta da cabeça. Deu partida no carro.
  A menina de pijama verde só percebeu que Stephane falava quando a pequena tocou seu braço. Ela perguntava o que estava acontecendo, onde estavam indo, mas como se explica a sua irmã menor que sua mãe havia se suicidado horas antes? Como iria explicar que agora estavam órfãs de pai e mãe? Não sabia. Emily estava em estado de choque. Não aguentava mais, seus olhos se encheram de lágrimas.
  Ao tentar acalmar Stephane, que agora chorava, Emily olha sua irmãzinha e segura sua mão. Um Erro. Emily perde o controle do carro e capota. Não havia carros ao redor. Não havia socorro à vista.
  A motorista acorda, mexe as mãos, mas não sente as pernas presas nas ferragens, a gravidade não ajudava e fazia pressão em sua cabeça, que doía e sangrava. Olhou para o lado, sua irmã não se encontrava no banco. Havia um buraco no para-brisa. Stephane havia sido arremessada na estrada, ela não se mexia. Emily gritava para a pessoa inanimada na pista. Nada. Ao fechar os olhos e esperar pela morte, Emily ouve vozes. O socorro havia chegado. O que ninguém contava era com o problema no motor, a gasolina vazava. BOOM! Era uma vez a família Ramos...



Susanna Albuquerque

Nenhum comentário:

Postar um comentário